Crítica: Eu Matei a Minha Mãe

Ficha Técnica

Direção: Xavier Dolan
Roteiro: Xavier Dolan
Elenco: Anne Dorval, Xavier Dolan, Suzanne Clément, François Arnaud
Fotografia: Stéphanie Weber-Biron
Montagem: Hélène Girard
Música: Nicholas Savard-L'Herbier
País: Canadá
Ano: 2009

A Sinopse


Hubert tem dezessete anos e não ama sua mãe. Além de só ter olhos para o gosto kitsch, as roupas bregas e pequenos detalhes como a forma que ela come, ele a contempla com desprezo. Os mecanismos de manipulação e culpabilização empregados por ela também não lhe passam desapercebidos e Hubert se vê progressivamente tomado por uma relação de amor e ódio fora do seu controle. Confuso, ele vaga por uma adolescência ao mesmo tempo marginal e típica, repleta de descobertas artísticas, experiências ilícitas, amizades e sexo. Exibido na Quinzena dos Realizadores em Cannes 2009.


A opinião (Durante o Festival do Rio - Em 22/09/2009)

O filme é simples da melhor maneira de dizer. Embalado pelo som de Vive le Fete, é intenso, sútil, direto, detalhista com humor ácido. Os diálogos não são clichês baratos, criam um ambiente realista. Absorvendo a normalidade da vida sem ser óbvio, apenas está sendo. Mostra, não pretensiosamente, a relação conflituosa de uma mãe e seu filho durante a adolescência. O filme possui alma de adulto, mesmo sendo escrito por um de 16 anos. É uma pequena obra-prima. Poderia ter sido menor, poderia. Mas o meu ponto de vista: na medida certa. Até agora é o meu filme do festival.

Crítica Complementar (Em 28/07/2013)


Confesso que posterguei tempo demais para realizar a crítica complementar de "Eu Matei Minha Mãe", escrito e dirigido por um jovem canadense, com alma francesa, chamado Xavier Dolan. Após ser exibido no Festival de Cannes de 2009, o filme recebeu uma ovação de aplausos por oito minutos, ganhando os prêmios CICAE, SACD e Prix Regards Jeune. A mesma recepção aconteceu quando o longa-metragem aconteceu no Festival do Rio do mesmo ano. Eu, por exemplo, assisti duas vezes seguidas. O impacto pode ser percebido tanto pela verborragia juvenil com alma (e definições filosóficas) de adulto, arrogância adolescente identificável, roteiro perspicaz e com tempo certo de uma edição ágil, contundente, consistente e, por incrível que pareça, despretensiosa. Este último adjetivo não é muito aceito por um grupo de críticos que acharam o filme um "exercício pretensioso da faculdade de cinema para impressionar o professor arrogante". Ufa! Menos people. o diretor é estreante na direção, e escreveu o roteiro quando tinha apenas 16 anos. Em entrevista ao jornal Le Soleil, ele admitiu que o filme é, em parte, autobiográfico (por ser assumidamente gay). Não sei se tão improvável assim, mas a referência à cantora Mallu Magalhães é mais do que válida, que tenta se reinventar e imprimir um estilo musical único e autoral. Exatamente a mesma história do "saído das fraldas" Dolan, que transfigura em tela as agruras, vazios, excitações, desentendimentos, frustrações e defesas de um jovem que representa o mesmo comportamento social do período atual. A distância para com os pais, a sensação de invencibilidade (como a música Heroes de David Bowie), a percepção que sabem tudo (e que conhecem todos os subterfúgios da vida) e o medo que se esconde na falta de limites (mostrando ao outro o que se quer projetar e não o que se pode vivenciar no momento), conflitando com o "pedido" urgente por regras familiares (pais ausentes, liberdade demais). É um filme único. Uma oportunidade ao espectador retornar a infância, regurgitar as próprias lembranças, identificar uma geração que não é mais presente (isso se você tiver mais de vinte e três anos). Como o diretor faz isso? Pela câmera que detalha, pela fotografia que cria a atmosfera e pelas próprias interpretações que desafiam o limite tênue da realidade, ficção e fantasia. O longa-metragem coleciona prêmios e indicações pelos festivais de cinema do mundo. 



Foto: Divulgação

O Diretor



Nasceu em Montreal, em 20 de março de 1989. Iniciou a carreira aos seis anos de idade, ao figurar numa série de propagandas para a televisão. Desde então trabalha como ator de cinema e televisão, tendo participado de filmes como La Forteresse suspendue (2001), de Roger Cantin, e Mártires (2008), de Pascal Laugier. Este é seu primeiro filme como diretor, produtor, e roteirista, tendo escrito o roteiro aos 16 anos.