Elenco: Monia Chokri, Niels Schneider, Xavier Dolan, Anne Dorval, Anthony Huneault, Patricia Tulasne, Jody Hargreaves, Clara Palardy, Minou Petrowski, Perrette Souplex, Sophie Desmarais
Fotografia: Stéphanie Anne Weber Biron
Música: Sylvain Brassard
Edição: Xavier Dolan
Produção: Xavier Dolan, Carole Mondello, Daniel Morin
Distribuidora: Filmes do Festival
Estúdio: Alliance Atlantis Vivafilm / Mifilifilms
Duração: 95 minutos
País: Canadá
Ano: 2010
COTAÇÃO: EXCELENTE
A opinião
(Durante o Festival do Rio 2010)
Xavier Dolan, o diretor que já nos presenteou com o seu excelente filme anterior e estreante “Eu matei minha mãe”, que foi exibido no Festival do Rio do ano passado, retorna com “Amores imaginários”, que o coloca no lugar da nossa safra do cinema alternativo, experimental com conteúdo, inovando em sua técnica e ou repaginando a antiga – fornecendo uma nova roupagem – e contando um tema universal com narrativa pop, retro, vintage e diferenciada da mesmice atual. Aborda-se a existência moderna de um amigo e uma amiga que entram em competição por outro garoto, não se sabendo de sua sexualidade e ou de seu interesse. A imaginação dos dois cria os detalhes (sinais) para que possam continuar buscando a atenção do “objeto” do desejo. Esse amor imaginário é a defesa do que se realmente quer, preferindo a dificuldade e incompreensão de um novo relacionamento a concreta figura possível. Inicia-se com depoimentos – com camera que propositadamente expõe o zoom, a fim de que transpasse uma aura de documentário – de jovens que passam por vivências amorosas. Eles contam histórias, muitas vezes surreais, mas que convencem por serem naturais e cotidianas. Há a sinceridade não encenada, desmascarando a prepotência defensiva de um futuro sofrimento. O humor ácido e perspicaz, sem forçar a graça, é característico e recorrente. “Como Glen Close, em Atração Fatal”, diz-se.
São passionais quando fazem tudo para serem notados. Arquitetam planos ingênuos e acreditam que suas ideias darão certo. Há o vazio, a solidão e a carência crônica, quando se vive em um mundo em que as pessoas estão tão próximas, mas tão distantes, criando o paradoxo, que se explica pela facilidade de ter o outro, do não limite da espera. O roteiro trabalha o moderno e o antigo, sem ser clichê. Utiliza elementos da vivência do passado, como a carta, a máquina de escrever, a luva, o chapéu. Assim remete-se à atmosfera de Godard e seus jovens franceses. A fotografia muda de cor em cenas específicas, resgatando a nostalgia bucólica (com tom alaranjado) dos momentos: de se fumar um cigarro e o carinho poético de uma prévia cena sexual. A camera lenta perpetua-se com clássicos da música francesa, tendo Dalida cantando “Bang Bang”, que aborda uma disputa de amor. Xavier inova a cada frame (instante cinematográfico). Não há gay ou hetero, há a liberdade moderna, contrastada pelo querer indeciso. As pessoas tornaram-se mercadorias do consumo. Quando se experimenta uma, deseja-se logo um novo modelo. Os planos diretos complementam os lentos e necessários.
Há picardia sútil para com o espectador quando apresenta uma cena da preparação de um encontro, com música melodramática, recorrendo-se a camera lenta (com inovação de técnica). A manipulação cruel da beleza e da confiança com o outro. “Vamos brincar de esconde, esconde”, diz-se sobre a metáfora de ser encontrado, ele ou ela primeiro. O sarcasmo, agressivo, ganha crescimento. “Eu vi um coelho branco”, referencia-se a Alice no País das Maravilhas. Há o surrealismo da peça “Amor da minha vida”. Há Audrey Hepburn (e seus gritos em “Bonequinha de luxo”). Há os três convivendo juntos na mesma cama, aludindo a “Sonhadores” de Bertolucci. O “objeto”, com nome de anjo, provoca a sexualidade. “Você ama mais o conceito do que a pessoa”, sobre a inteligência e a utilização de palavras incomuns. Os que desejam o “anjo”, deixam de ser eles mesmos para agradar ao outro. Há a luz da festa estroboscópica. Há mudança de tempo. Há uma nova figura do próximo amor imaginário pelo personagem de Louis Garrel, referenciando “Canções de amor”. “É sempre mais simples quando existe alguém”, finaliza o existencialismo não dramático. É fantástico como se trabalha os elementos, inovando a cada cena. Excelente. Mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes 2010.
O Diretor
Nasceu em Montreal, em 1989. Começou a atuar em comerciais televisivos aos quatro anos. Desde então trabalha como ator de cinema e televisão, tendo participado de filmes como J’en suis! (1997), de Claude Fournier, La Forteresse suspendue (2001), de Roger Cantin, e Mártires (2008), de Pascal Laugier. Estreou na direção em 2009, com o filme “Eu matei a minha mãe”, que lhe rendeu três prêmios na Quinzena dos Realizadores de Cannes.