Crítica: Terça Depois do Natal

Ficha Técnica

Direção: Radu Muntean
Roteiro: Alexandru Baciu, Razvan Radulescu, Radu Muntean
Elenco: Mirela Oprisor, Mimi Branescu, Maria Popistau
Fotografia: Tudor Lucaciu
Montagem: Alexandru Radu
País: Romênia
Ano: 2009
Duração: 99 minutos


A opinião

O cinema romeno tem a característica de abordar temas polêmicos com naturalidade. Os seus personagens convivem com maniqueísmos. O certo e ou errado são elementos coniventes para preservar o desejo que sentem sobre as coisas e pessoas. “Terça depois do Natal” enfoca a infidelidade, tratada como cotidiana, em simples ações do dia-a-dia. A omissão da culpa deve-se à crença do próprio querer. A narrativa ajuda a criar a atmosfera pretendida, com seus planos longos de suas cenas. As idiossincrasias extrapolam o corte do momento, deixando que o espectador observe como realmente tudo acontece. O roteiro deixa-se acontecer. Não há limites cinematográficos, metaforizando com a quebra do próprio argumento de sua história. Há a resignação da escolha. Escolhe-se o individualismo. Quando não há paz interior, a necessidade da mudança se faz presente. E é escolhida de forma direta, seca e rápida. A naturalidade das imagens fornece o olhar do intrometimento da vida alheia. As cenas de nudez, na cama ou cortando o cabelo, as compras em um supermercado, os preparativos para o Natal, a escola da filha, o trabalho. As conversam versam sobre banalidades típicas de um relacionamento (novo – pela excitação inicial e do conhecimento – e ou antigo – desgastado na rotina do tempo e do costume da repetição). O recente gera frases como “Amante latino”, já o conhecido incorpora as tarefas de seguir as regras sociais de uma festa, por exemplo. Ele trai a esposa, que não sabe, mas tem a cumplicidade “moderna” da outra (que é a dentista da família), que sabe do casamento dele, da filha (que escolhe as decisões sobre sua própria vida) e não propõe o término. Para ela é melhor assim. A liberdade de se ter o objeto, mas sem a cobrança das consequências deste ato.

O longa estende as ações, mas sem cansar. Segue-se pelo equilíbrio e o tênue. Os diálogos às vezes frios, às vezes passionais, ditam a convivência das relações humanas. “Você é assim: qualquer mudança te desagrada”, diz-se com o sentimento confrontado e paradoxal, por causa da experiência de se expor o que quer e o que se deseja mascarar, por defesas agressivas, mas sem serem violentas. “Eu te amo, esse é o meu plano de futuro”, diz-se. Há modernidade é moderna em referências a filmes como “As Horas”, “A leste de Buscareste” e até mesmo McDonalds. O contraste aparece com a própria tradição que ele (o marido e amante) deseja e segue. A árvore natalina, os presentes, as festas sociais de família. Mas quando, conta, com sinceridade, a verdade totálitária à esposa, há a resposta normal de conduta. Ela utiliza a raiva repetitiva e patética (extremamente aceitavel, por ser comum) para provocar discussões. “Eu estava esperando ver se ia passar (a traição) para te contar. Não estava buscando isso, simplesmente aconteceu”, diz com a razão realista e decidida. Concluindo, é um filme que utiliza a narrativa de espera das ações cotidianas de indivíduos, buscando a sinceridade natural e exterminando qualquer possibilidade dos elementos óbvios e clichês. Excelente.

A Sinopse

Paul é casado há dez anos com Adriana, com quem tem uma filha, Mara, de oito anos. Há seis meses, no entanto, ele mantém uma relação extraconjugal com Raluca, uma jovem dentista. O Natal se aproxima e Paul se divide entre a família, a amante e a compra dos presentes. Quando decide levar Mara à dentista uma última vez antes do fim do ano, Paul sem querer cria um impasse em sua vida. Uma mudança inesperada na agenda de Adriana faz com que ela e Raluca dividam pela primeira vez o mesmo espaço. Perplexo diante das duas mulheres que ama, Paul será forçado a tomar uma decisão.

O Diretor

Nasceu em 1971, na Romênia. Formou-se em 1994 na Academia de Teatro e Cinema de Bucareste. Após uma série de curtas, realizou seu primeiro longa, Rage (2002), vencedor do prêmio de Melhor Primeiro Filme pela União Romena de Realizadores. Seu filme seguinte, The Paper Will Be Blue (2006), estreou na Competição do Festival de Locarno. Em 2008, seu Boogie foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores de Cannes e exibido no Festival do Rio.