Crítica: A Árvore da Vida

Ficha Técnica

Direção: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
Elenco: Brad Pitt, Sean Penn, Jessica Chastain, Fiona Shaw, Kari Matchett, Dalip Singh, Joanna Going, Jackson Hurst, Brenna Roth, Jennifer Sipes, Crystal Mantecon, Lisa Marie Newmyer
Fotografia: Emmanuel Lubezki
Música: Alexandre Desplat
Direção de arte: David Crank
Figurino: Jacqueline West
Edição: Hank Corwin, Jay Rabinowitz, Daniel Rezende, Billy Weber e Mark Yoshikawa
Produção: Dede Gardner, Sarah Green, Grant Hill, Brad Pitt, Bill Pohlad
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: Cottonwood Pictures, Plan B Entertainment, River Road Entertainment
Duração: 138 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2011
COTAÇÃO: ENTRE O MUITO BOM E O EXCELENTE




A opinião

Há filmes que precisam de um tempo para que possam ser digeridos corretamente. Quanto mais se pensa sobre eles, mais se chega a uma definição única do gostar ou não gostar. “A Árvore da Vida” é um deles. Essa maturação mental gera o entendimento e assim, o que era um conjunto de imagens torna-se uma obra-prima do cinema. Todo esse processo eu quero compartilhar com os leitores. O longa-metragem não precisa de informações adicionais para que possa ser entendido. Porém, se estes extras são conhecidos, há uma melhor percepção sobre seus projetos. Terrence Malick é um diretor que explora tanto a experimentação da técnica cinematográfica quanto à natureza em sua completude. Seus filmes projetam um tempo de espera de próximos acontecimentos. Mas a narrativa não é lenta, e sim editada, dando-se conta do limite permitido do olhar do espectador. Em “Dias do Paraíso”, de 1978, sobre um triângulo amoroso que se desenvolve nos campos de plantação do Panhandle do Texas no início do século XX, Terrence e sua equipe experimentaram técnicas não-convencionais de edição e narração. Esta é um das características de sua carreira. A outra é a ligação com as origens da Terra – e da natureza. O interesse iniciou com o projeto “Q”, feito para Paramount Pictures, que eventualmente se tornaria a base para seu novo filme em questão “A Árvore da Vida”. Durante a pré-produção, ele de repente se mudou para Paris e desapareceu da vida pública. Vinte anos depois, o diretor dirigiu “Além da Linha Vermelha”, explicitando elementos naturais e uma nova característica: o existencialismo, ora de revolta, ora de resignação.

Será que quando o diretor teve contato direto com a natureza, a mesma o transformou? O que o fez sentir? As suas obras são equilibradas. Buscam libertação, mesmo sabendo que às vezes não é possível. Em seu mais recente filme, os elementos característicos de seu trabalho estão presentes. O longa-metragem é uma ode à paz, à tranquilidade e à aceitação do fim do sofrimento. Um roteiro extremamente existencialista e inteligente, porque mostra de forma linear uma experimentação narrativa de trás para frente, mas não todo o tempo. Há divisões. A reviravolta é apresentada logo no início, com o conhecimento prévio da morte de um dos filhos do casal, interpretados por Brad Pitt e Jessica Chastain, transpassados em elipses temporais. Cabe ao espectador guardar essa parte a fim de entendimento ao que será contado na parte final. A próxima parte, a trama torna-se epifânica. A mãe, católica, suplica a todos os possíveis seres da natureza, já que Deus está em tudo, incluindo os extintos, que a dor em seu peito passe e que a serenidade a ilumine. A seguir a história acontece por momentos da infância, com tom nostálgico e atemporal, até que a trama em si seja conduzida de forma clássico, mas não sem antes incluir diversos ângulos de camera experimentais.

Intercala com narrações, sussurradas, dos personagens, interagindo com a luz religiosa do universo, lembrando à chama estilizada de uma vela acesa. Todos procuram a libertação dos seus sofrimentos, culpas, raivas. Buscam aceitação e compreensão. É a eterna briga do ser-humano com a religião. Como se comportar? Deixar de ser quem é? Na parte mais linear, o roteiro apresenta as causas, informando que o meio o qual o indivíduo vive, o transforma, para o bem ou para mal, despertando realmente o que cada um é na essência. Mesmo nesta parte do filme, há elipses narrativos. É um grande balé de imagens que aprisiona, porém aos mesmo tempo afasta. Prende pelo envolvimento do espectador com a história em si. E afasta, suavizada pela poesia do que se vê na tela. É único. Uma verdadeira experiência sensorial. Boa parte do filme se passa nos anos 50. A trama gira em torno do casal O'Brien e seus três filhos. Jack (Sean Penn) é o irmão mais velho e, no começo da trama, está vivendo uma feliz e inocente infância com seus 11 anos. Tudo muda quando um dos irmãos morre e a família entra em desespero.

A história passa então a mostrar a transformação do garoto Jack em um adulto perdido no mundo moderno e em constante busca pelo sentido da vida. O filme mostra-se por detalhes, por pequenas informações, que são necessárias à montagem do quebra-cabeça. Não há como não se encantar com as inúmeras imagens da vida natural vivenciadas plenamente por cameras internas. Seres diferentes, outros já conhecidos e até dinossauros. Como já disse, a libertação é o principal querer. Digressionando, muitos estão comparando este longa-metragem com “Melancolia”, de Lars von Trier, por possuírem imagens semelhantes. Uma dica: não faça isso. Cada um tem o seu valor e cada um é diferente no seu estágio intrínseco. Voltando, “A Árvore da Vida” inicia-se com um citação 38:47 do Livro de Jó, que é considerada a obra prima da literatura do movimento de Sabedoria e uma das mais belas histórias de prova e fé. Conta a história de Jó, que era um homem temente à Deus e o agradava. Complementada pela narração. “Há dois caminhos na vida: o da natureza e da graça. Você precisa escolher qual deles seguir”, diz-se.

“Ele esteve nas mãos de Deus todo o tempo. Você ainda tem outros dois”, diz (Fiona Shaw, que vive a bruxa Antonia em “True Blood”) tentando confortar a mãe que perdeu o filho, usando a crueldade da sinceridade. “Ele envia moscas para a ferida que deveria curar”, revolta-se com Deus pelo trágico e incompreensível acontecimento. A narrativa, de construção, aos personagens e aos espectadores, segue com digressões, mais experimentações de cameras, memórias e uma atmosfera estranha. A epifania da natureza busca todos os cantos naturais. A galáxia, o vulcão (com imagem estilizada e real). Aos poucos, a memória afetiva deles afeta a quem assiste, aprofundando o sofrimento e fornecendo sinestesia do que está sendo projetado. Na parte principal, as peças são montadas. A família católica. O pai rígido. A mãe condescendente, que imprime regras simples como apenas a diversão propriamente dita. Ela é a figura da proteção e da leveza. Já o patriarca cria o medo e impõe o poder, dando a ordem e depois pedindo um abraço. “Sua mãe é ingênua. Precisa-se de determinação para vencer na vida. Para ter êxito, não se pode ser íntegro demais”, diz-se em um ambiente familiar de brigas e submissão. “Como pode conhecer sem olhar?”, questiona-se. A incrível fotografia, de Emmanuel Lubezki (de “Como Água para Chocolate”, “E a sua mãe também”, “Coisas que você pode dizer só de olhar para ela”, “O Assassinato de Richard Nixon”), ilumina incidentalmente o objeto pretendido. O tempo da infância, os efeitos da criação, a revolta esperada e as causas da maldade. É um processo em linha reta. Essas são reações esperadas pelo ser humano, que se comporta de forma passional e óbvia nos problemas. A catarse pode vir de inúmeras formas. Tudo influenciará. E assim, as diferenças latentes na alma de cada um fornecerão as consequências ao futuro. A música, espetacular de Alexandre Desplat (de “O Curioso Caso de Benjamim Button”, “A Rainha”, a animação “O Fantástico Mr. Fox”, entre outros), fornece o tom exato à imersão do que aparece na tela.

O espectador ainda pode contar com excelentes interpretações. Destaque ao adolescente filho mais velho (Hunter McCracken). Outro ponto importante é a montagem desconcertante, chegando a ser perturbadora (positivamente falando). São cinco montadores: Mark Yoshikawa, Billy Weber (de “Além da Linha Vermelha” e “Top Gun”), Hank Corwin (de “Assassinos por Natureza”), Jay Rabinowitz (de “Réquiem Para um Sonho”) e o brasileiro Daniel Rezende (de “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite”, “Diários de Motocicleta”, entre outros). Concluindo, um filme que quando comecei a pensar era bom, depois passou a ser entre o bom e o muito bom, e agora finalizando a análise, percebo que é melhor do que imaginava. Portanto, nada mais justo do que fornecer uma cotação entre o muito bom e o excelente. Vale muito a pena assistir. Recomendo. A árvore da vida retratada no filme localiza-se na cidade de Smithville, Texas. O filme venceu a categoria máxima do Festival de Cannes 2011, levando a estatueta da Palma de Ouro de Melhor Filme. Dois dos produtores do filme, Bill Pohlad e Sarah Green, aceitaram o prêmio em nome de Malick. O presidente do juri de Cannes, Robert De Niro, explicou que a escolha de “A Árvore da Vida” foi difícil, porém "Tinha o tamanho, a importância, a intenção, o que quer que você fale, parecia se adequar ao prêmio".


O Diretor

Terrence Frederick Malick nasceu em 30 de novembro de 1943, é americano. Com uma carreira de mais de quarenta anos, Malick dirigiu apenas seis filmes. Muitos críticos de cinema consideram seus filmes obras-primas. Foi indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Diretor e Melhor Roteiro Adaptado, e venceu um Urso de Ouro do Festival de Berlim por The Thin Red Line. Em 2011, seu filme The Tree of Life venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Filho de Emil Malick, um geólogo de ascendência assíria-libanesa cristã, e Irene Malick. Ele estudou filosofia na Universidade de Harvard, se formando com a maior das honras e Phi Beta Kappa em 1965. Ele então foi para o Magdalen College, Oxford, porém saiu antes de ganhar um doutorado. Em 1969, a Northwestern University Press publicou a tradução de Malick de um dos trabalhos de Martin Heidegger. Voltando para os Estados Unidos, Malick ensinou filosofia no Instituto de Tecnologia de Massachusetts enquanto no tempo livre trabalhava como jornalista. Ele escreveu artigos para a Newsweek, The New Yorker e LIFE. Malick começou sua carreira em filmes depois de ganhar um MFA do AFI Conservatory em 1969, dirigindo Lanton Mills. Na AFI ele entrou em contato com pessoas como Jack Nicholson e o agente Mike Medavoy, que procurou Malick para trabalhos independentes como revisor de roteiros. Ele é creditado pelo roteiro do filme Pocket Money, e escreveu os primeiros rascunhos de Dirty Harry e Great Balls of Fire!. Após um de seus roteiros, Deadhead Miles, se tornou algo que a Paramount Pictures achou que não poderia lançar, Malick decidiu dirigir seus próprios roteiros. Seu primeiro filme foi Badlands, de 1973, estrelado por Martin Sheen e Sissy Spacek como um jovem casal em uma onda de crimes na década de 50. Depois de uma produção tumultuada, Badlands estreiou no Festival de Cinema de Nova Iorque, levando a Warner Bros. a comprar os direitos de distribuição do filme pelo triplo de seu orçamento. A Paramount produziu o próximo filme de Malick Days of Heaven, em 1978, sobre um triângulo amoroso que se desenvolve nos campos de plantação do Panhandle do Texas no início do século XX. O filme passou dois anos em pós-produção, tempo em que Malick e sua equipe experimentaram técnicas não-convencionais de edição e narração. Days of Heaven venceu o Oscar de Melhor Fotografia, assim como o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes de 1979. Após o lançamento de Days of Heaven, Malick começou a desenvolver um projeto para a Paramount chamado Q, que exploraria as origens da vida na Terra. Durante a pré-produção, ele de repente se mudou para Paris e desapareceu da vida pública. Durante esse tempo, ele escreveu um grande número de roteiros, incluindo The English Speaker, sobre a analise de Josef Breuer sobre Anna O.; adaptações de The Moviegoer, de Walker Percy, e The Desert Rose, de Larry McMurtry; um roteiro sobre Jerry Lee Lewis; uma adaptação de Sanshō Dayũ' que seria dirigida por Andrzej Wajda, além de continuar a trabalhar no roteiro de Q. O trabalho de Malick em Q eventualmente se tornaria a base para seu filme de 2011, The Tree of Life. Vinte anos depois de Days of Heaven, Malick retornaria a dirigir um filme em 1998 com The Thin Red Line, uma adaptação do livro de mesmo nome escrito por James Jones, reunindo um grande elenco composto por grandes estrelas do cinema. O filme foi indicado para sete Oscars, vencendo o Urso de Ouro em 1999 no Festival de Berlim. Depois de descobrir sobre o trabalho de Malick em um artigo sobre Che Guevara na década de 1960, Steven Soderbergh deu à Malick a chance de escrever e dirigir um filme sobre Guevara que ele estava desenvolvendo com Benicio del Toro. Malick aceitou e produziu um roteiro focado na tentativa mal sucedida de revolução de Guevara na Bolívia. Depois de um ano e meio, o financiamento ainda não havia sido totalmente garantido, e Malick recebeu a oportunidade de dirigir The New World, um roteiro que ele começou a desenvolver na década de 1970. Consequentemente, ele deixou o projeto de Guevara em 2004. Soderbergh acabou dirigindo Che. The New World, que apresenta uma interpretação romântica da história de John Smith e Pocahontas, foi lançado em 2005. Mais de 300 km de filme foram gravados para o filme, e três cortes de diferentes duranções foram lançados. Ele foi indicado ao Oscar de Melhor Fotografia, porém recebeu resenhas geralmente mistas da crítica especializada em seu lançamento, apesar de desde então ter sido apontado por alguns como um dos melhores filmes da década. O quinto filme de Malick, The Tree of Life, foi filmado em Smithville no Texas e em outras locações durante 2008. Estrelado por Brad Pitt e Sean Penn, conta o drama de uma família em múltiplos periodos da história e se foca na reconciliação de um indivíduo com o amor, misericórdia e beleza com a existência de mortes e sofrimento. Estreou no Festival de Cannes de 2011 vencedo a Palma de Ouro antes de ser lançado nos Estados Unidos em 27 de maio do mesmo ano. Dois dos produtores do filme, Bill Pohlad e Sarah Green, aceitaram o prêmio em nome do reclusivo Malick. O presidente do juri de Cannes, Robert De Niro, explicou que a escolha de The Tree of Life foi difícil, porém "Tinha o tamanho, a importância, a intenção, o que quer que você fale, parecia se adequar ao prêmio". (Texto: Wikipedia)