Ficha Técnica
Direção: Helvécio Marins Jr., Clarissa Campolina
Roteiro: Felipe Bragança
Elenco: Maria da Conceição, Luciene Soares da Silva, Wanderson Soares da Silva, Gomes de Moura, Maria Sebastiana, Martins Álvaro.
Fotografia: Ivo Lopes Araújo
Música: O Grivo
Edição: Marina Meliande
Produção: Paulo de Carvalho, Gudula Meinzolt, Luana Melgaço, Luis Miñarro, Sara Silveira
Estúdio: TEIA Filmes / Autentika Films / Dezenove Som e Imagens / Eddie Saeta S.A.
Duração: 90 minutos
País: Brasil/ Espanha/ Alemanha
Ano: 2011
COTAÇÃO: MUITO BOM
A opinião (por Fabricio Duque)
"Um filme que gira". “Girimunho” participa do novo gênero que
vem crescendo no cinema nacional, chamado de Novíssimo Cinema. É considerado um
filme de autor, porque desconstrói a narrativa cinematográfica, inserindo
planos longos e contemplativos, e utilizando não atores em um universo sem
nenhum glamour. A cena inicial explica bem o que já foi dito. Um plano
sequência mostra o “batuque”, a música, tradicional de um povo, com tambor,
libertadora dos escravos em um lugarejo onde o tempo parou de passar. A trama
aborda a vida de duas senhoras no sertão mineiro fazendo o redemoinho da vida
girar. Há fades em preto, sombras, a luz da televisão (que incide o que se
deseja retratar), escuridão, objetos retratados (em detalhes difíceis de
perceber) e a falta de foco, que fornece base a uma senhora que canta, com
catarse e entrega à música (de ciranda popular).
O longa-metragem de Helvecio Marins Jr e
Clarissa Campolina, estreantes na direção, apresenta o cotidiano de um lugar
interiorano, respeitando o tempo real das ações comuns, com o sotaque natural
de seus personagens, usando a simplicidade, ingenuidade, sinceridade (quase
cruel) e o julgamento explicito a fim de expressão, sem conhecimento das regras
sociais do politicamente correto da convivência. São desprovidos
economicamente. Por isso, prendem-se à resignação, esperando a morte chegar,
dentro de um silêncio que diz tudo. “Chorei uma vez há muitos anos”, diz-se. A
atmosfera transpassada é de atemporalidade nostálgica, de lembrança que se
apaga. Os diretores exploram, de forma incrível, competente e espetacular o
material humano. São tipos comuns, envelhecidos, idiossincráticos, com opiniões
– e crenças – enraizadas. Os diálogos convencem pela extrema naturalidade.
Digressionando, as avós costumam ser melodramáticas, dizendo frases de efeito e
impossibilitadas (por elas mesmas) de visualizar a novidade. Isso explica o que
é visto na tela. Os personagens quase não aparecem. São filmados por trás. É
quase um documentário ficcional.
Nesse tipo de gênero, a ficção é
semelhante ao documentário, que nada mais é um retrato da interpretação que
cada um assume para si. Conversam sobre morte, banalidades, “fofocas”. Soa de
forma amadora editada. O roteiro de Felipe Bragança (de “A Alegria”), mais uma
vez, traz a tona o cinema do tailandês Apichatpong Weerasethakul (de “Tio
Boomme Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas”), quando insere o mar, o peixe, a
metáfora, a floresta, os planos incomuns, e os fantasmas (que não são
mostrados, apenas ouvidos). Então, uma senhora parte para permitir que o marido
falecido deixe a “Terra”. É poético, e antropológico, quando a roupa afunda.
Alguns elementos, desnecessários, datam um momento, o trazendo a um presente
mais próximo, como por exemplo, a bicicleta ergométrica. “A gente não começa,
nem acaba”, finaliza-se. Concluindo, um filme denso, tenso, simples, não
caricato, humanizado, com poesia sem clichê. Vale à pena assistir.
Os Diretores
Helvécio Marins Jr é pós-graduado em Cinema. Dirigiu os curtas 2 Homens, Trecho, Nascente.
Clarissa Campolina graduou-se em Comunicação Social e dirigiu os curtas Trecho e Adormecidos, o média Notas Flanantes e a instalação Rastros. As obras dos dois diretores ganharam prêmios no Brasil e exterior, e foram selecionados nos principais eventos de cinema. Girimunho é o primeiro longa-metragem dos diretores.