Elenco: Michael Fassbender, Viggo Mortensen, Keira Knightley, Vincent Cassel, Sarah Gadon, Michael Fassbender
Fotografia: Peter Suschitzky
Música: Howard Shore
Edição: Ronald Sanders
Produção: Martin Katz, Marco Mehlitz
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: Recorded Picture Company (RPC) / Lago Film / Prospero Pictures
Duração: 100 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2011
COTAÇÃO: MUITO BOM
A opinião (por Fabricio Duque)
"Terapia em tela". Há pessoas que temem a mente perturbadora do cineasta canadense David Cronenberg (de “A mosca”, “Gêmeos – Mórbida semelhança”, “Crash – Estranhos Prazeres”, “Senhores do Crime”, entre tantos outros). A causa do pensamento anterior é devido a inúmeros elementos narrativos cruéis, sádicos, escatológicos e viscerais, alguns até mesmo “nojentos”. O que dizem não é uma crítica destrutiva, e sim um excelente elogio. “Ele é gente boa”, disse o também crítico (bonequinho) Rodrigo Fonseca. Sim, ele é um gênio, imprimindo um estilo cinematográfico único, extremamente simples e complexidade devastadora. Em seu mais recente filme “Um Método Perigoso”, aborda às vésperas da 1ª Guerra Mundial, em Viena, o psiquiatra Carl Jung que trata seus pacientes a partir dos ensinamentos do seu mentor, o psicanalista Sigmund Freud. Quando os dois conhecem a jovem Sabina Spielrein (Keira Knightley – com interpretação nevrálgica), doente e perturbada pelo passado, logo são atraídos pelo caso e seduzidos pela moça. Com o tratamento, Sabina e Jung se aproximam e tem um caso amoroso.
Jung começa a questionar as restrições impostas por Freud e desenvolve suas próprias teorias. Os dois iniciam então uma disputa que vai levar ao rompimento de sua amizade. A edição ágil do início, com música de efeito, muda e fornece lugar ao aprofundamento direto e sem suavizações dos personagens, interpretados por atores excelentes, com tamanho grau de naturalidade, que faz o espectador sentir na pele o drama apresentado. Na trajetória de Jung – humano e falho (que não acreditava em coincidências, mas que trabalhou na tese dos sonhos), ele, formal e preso às convenções sociais, influencia-se pelos métodos de seus pacientes, convivendo com a obsessão fálica de Freud, que tenta seduzi-lo (“convincente e persuasivo”), servindo de crítica ao universo psicanalítico ao apresentar o lado humano do terapeuta (com suas crenças, julgamentos e preconceitos). Não há limites. Questionam o determinismo comportamental e biológico: apanhar gerando excitação, a ninfomania e principalmente a monogamia. “Só vamos conversar”, diz-se. A parte técnica é um caso à parte. A câmera estática foca a crise psicótica da personagem, buscando, com leveza, a simetria da imagem (andando para o perfeito enquadramento). É um filme preciso, cirúrgico, metódico e sistemático, assim como Cronenberg. “Anjos sempre falam em alemão”, diz-se, uma das muitas frases sarcásticas, porém sutis de confronto arianos e judeus. Jung experimenta métodos, ensinando a profissão a uma paciente (passional, tendo lampejos de alucinação e ouvindo vozes na mente) e quebrando as próprias regras. A causa vem da culpa social, um dos motivos que faz com que a pessoa embarque na loucura. Há perspicácia nos diálogos, tornando o filme sóbrio, adulto e espetacular. O filme direciona-se pelo viés sexual. A cena do navio (com sua câmera “impossível de ser feita”) é uma das mais incríveis. “Tudo tem um sentido”, diz-se. “Nunca reprimir coisa alguma”, rebate-se. “Prazer nunca é simples”, complementa-se. Um dos pontos altos do filme é a presença das frases inteligentes. O cineasta imerge na psicanálise, mitigando tabus e expressando liberdade de ser e querer qualquer coisa. É um filme que merece ser visto e revisto.
A opinião (por Marise Carpenter)
"Concordo com Cronenberg". Mais um filme baseado em fatos reais e em dois livros. É David Cronenberg no formato cinemão. Belas e grandiosas imagens, reconstituição de época, vestuário, objetos, tudo ali. E também ali na telona a grande sacação de Cronenberg: mostrar o encontro de Jung e Freud que quase todos tem muita curiosidade em ver. Digo isso porque creio ser melhor ler os livros, pois saímos do filme com uma sensação de que perdemos muita coisa por termos pouco tempo para muita teoria. Ouvia as pessoas saindo e falando: tenho que ver esse filme de novo, a legenda passava muito rápido. Concordo com Cronenberg: expor no cinema Jung e Freud juntos dialogando sobre suas profundas teorias “psicoanalíticas” é um método perigoso.
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O Diretor
Nasceu em 1943, em Toronto. Graduou-se em Literatura e Ciências Naturais na Universidade de Toronto. Dirigiu filmes como como A Mosca (1986) e Crash - Estranhos Prazeres (1996), prêmio especial do júri em Cannes. Em 1999, ganhou o Urso de Prata em Berlim com eXistenZ. Voltou a Cannes em 2002 com Spider - Desafie sua Mente, e em 2005 com Marcas da Violência. Senhores do Crime (2007) foi indicado ao Globo de Ouro de melhor filme.