“Mekong Hotel” apresenta-se como o mais novo filme do cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul (de “Mal dos Trópicos”, “Tio Boonmee que Pode Recordar Suas Vidas Passadas”, longas-metragens premiadas, como por exemplo, o Festival de Cannes). Traçando um perfil sobre a obra do diretor, podemos constatar a recorrência dos elementos figurativos metáfora e da transposição do existencialismo silencioso. Em “Mekong Hotel”, a narrativa é lenta e contemplativa, transpassando o tempo real dos acontecimentos cotidianos, funcionando como ficção documental ao inserir referências pessoais (da história que está sendo contada – exemplo a do diretor Apichatpong que se autointitula Tio Joe) dos “atores” vivendo atores, dentro de uma metalinguagem cinematográfica política e questionadora. Há olhares à câmera (interatividade com o público), cuecas da marca Calvin Klein (indicando o consumo capitalista globalizado), a mãe vampira (mostrando a relação antropofágica dos pais – de sugar o “sangue” e os sonhos dos filhos, e também o propósito do ser humano – de se alimentar de outros humanos e animais), tudo personificado de forma explicita e amadora, quase “tosca”. Os diálogos perdidos e superficiais são propositais, a fim de expor o querer individualizado no contexto da sociedade. “A água não tem ouvidos”, diz-se entre escavadeiras e garotos “animais” das Filipinas. No final, a poesia da cena, o Jet ski e a jangada, cria a dicotomia econômica de um mundo que tende à tecnologia e “evolução”. Para muitos espectadores (incluindo críticos), o que mais incomoda é a lentidão das imagens e o “vazio” apresentado. Então, parto em contradição, afirmando que por trás da ausência, há uma aula política, pelo excesso e pela sutileza, ao mesmo tempo.