Por Fabricio Duque
É mais do que compreensível ocorrer
um tempo à adaptação de se estar cobrindo um festival internacional. Com o
Berlinale, Festival Internacional de Cinema de Berlim, não poderia ser
diferente. E levou um tempo maior, até porque aqui é completamente diferente do
Festival de Cannes, por exemplo. Se na França, foca-se na imprensa e nos
convidados, em Berlim, o público pode conferir todos os filmes, comprando
ingressos e os assistindo junto com o
próprio juri oficial (em muitos casos). Digamos que se parece com o Festival do
Rio, por causa da diversidade de mostras e cinemas. Assim, a “jornada” diária é
cansativa, com cabines de imprensa às 08 e 30 da manhã, seguida de coletiva,
seguida de outra cabine às 12 horas, seguida de coletiva, seguida de outra (variando
das 15 às 16 horas o início), seguida de coletiva, seguida de outros filmes de
outras mostras (Forum, Forum Expanded, Panorama), terminando o dia por volta
das 23 horas.
Acostumando-se Com a Correria
Logo de imediato, o que assusta,
talvez é o clima frio. Mas este ano Berlim resolveu “presentear” os brasileiros
mudando a temperatura de -12 para +6. Os dezoito graus transformaram a cidade
em um estado sulista do nosso país. Resolvido o fuso horário, desvenda-se aos
poucos os segredos do Festival. É mais simples do que se parece. Desde o
requerimento (online), a flexibilidade se faz um fator recorrente. Sem
hierarquia de imprensa (diferente do Festival de Cannes), apresenta-se mais “descolado”
e menos “complicado”. Se a cabine é “perdida” (por cansaço, lógico), então outros
horários podem ser “encaixados” (retirando-se os ingressos na própria área da
imprensa), sempre com água e releases dos filmes a vontade. Chegando cedo, há
mais possibilidade de se conseguir a retirada de convites.
Os Filmes
Este ano, a edição 64 do Berlinale
optou, na maioria, por “explorar” o universo infantil, o colocando nos papéis
de adultos.
O Festival mostrou-se “moderninho”, como
sempre é, chamando a comediante Anke Engelke para imprimir o típico humor alemão e o rock-pop de The
Asteroids Galaxy Tour (que cantou “Lust for life”, de Iggy Pop). Vivenciando
Berlim, conseguimos entender a estrutura adotada. A cidade “vive” em constante
reconstrução (nazismo, holocausto, guerra fria) e “parece” um grande bunker ao
céu aberto, reverberando “opiniões” firmes, porém respeitosas de seus
moradores.
Nada mais compatível que abrir Berlinale
com “THE GRAND BUDAPEST HOTEL”, de Wes Anderson. O filme corrobora o estilo do
diretor, unindo excentricidade de realismo fantástico com humor “estranho” e
fantasioso. Na plateia, Tilda Swinton vestindo “David Bowie” e um elenco com
sorrisos-picardias. O longa-metragem integra a lista da mostra competitiva oficial.
Amanhã, sábado, dia quinze de fevereiro,
conheceremos os premiados ao Urso de Ouro e aos Ursos de Prata. Na competição,
o alemão “JACK” (naturalidade no cotidiano de uma criança que busca juntar sua
família); “TWO MEN IN TOWN” (baseado no filme homônimo com Forest Whitaker,
apresenta-se como um drama catártico da redenção de um homem); do Reino Unido “´71”
(com estilo “Guerra ao Terror”, retrata de forma quase sensorial – pela câmera –
o resgate a um soldado); da Alemanha “BELOVED SISTERS” (novela romanceada com
quase três horas de duração e com humor alemão para construir a narrativa); “STATIONS
OF THE CROSS” (obra-prima que mescla Lars von trier e Michael Haneke – Urso de
Ouro); “HISTORIA DEL MEDO” (sobre a “ameaça” da classe social menos
privilegiada – estilo “O Som Ao redor”, só que bem mais fraco – considerado uma
das “bombas” do Festival); da China vem “TUI NA” (a jornada visceral e violenta
de um deficiente visual); o dinamarquês-noruegues “KRAFTIDIOTEN” (a narrativa
em “ordem de desaparecimento” insere uma novidade narrativa na mesmice “batida”
da estrutura americana); o francês “AIMER, BOIRE ET CHANTER” (caminha pelo
teatro filmado em realismo interpretativo – cansativo e longo – mas curioso); o
alemão “IN BETWEEN WORLDS” (a “bomba” do festival – perdido, sem equilibrio e
tentando copiar técnicas de cinema comercial americano); o brasileiro “PRAIA DO
FUTURO” (corrobora o estilo mais conhecido do diretor, que filma “com o coração”
e com extrema sensibilidade); o grego “STRATOS” (retrata totalmente o estilo
grego de ser: repetições verborrágicas e olhares de observação explícita –
cansativo e longo – talvez por ser feito especificamente para seu país); o
argentino “LA TERCERA ORILLA” (representa a naturalidade cotidiana da vida de
um adolescente – irmão mais velho – com narrativa em elipse, deixa várias
questões em aberto); “ALOFT” (um melodrama de auto-ajuda fast food – a grande “bomba”
do festival – troféu Framboesa); o chinês “BAI RI YAN HUO” (visceral, violento
e narrativa estilo “Lady Vingança”); também da China “NO MAN’S LAND”
(fantasticamente violento e surreal – um faroeste spaguetti com estilo
Tarantino e coreano); “BOYHOOD” (perfeição na realização cinematográfica –
acompanha doze anos a vida do filho de uma família comum americana); “MACONDO”
(estrutura naturalista dos filmes do Kechiche – muito bom) e o japonês “THE
LITTLE HOUSE” (a odisseia de uma família com inversão de valores ao colocar a
traição matrimonial de uma mulher japonesa).