Crítica Convidada: Hoje Eu Quero Voltar Sozinho [por Pedro Rafael]


"Hoje Eu Quero Voltar Sozinho" representa a escolha do Brasil para concorrer ao Oscar 2015. No dia 15 de janeiro de 2015, o público saberá se o longa-metragem de temática LGBT concorrerá uma das cinco “vagas” à estatueta dourada de Melhor Filme Estrangeiro, em cerimônia em Los Angeles, no dia 22 de fevereiro. A decisão da ministra Martha Suplicy, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, por uma comissão de seleção, “trata-se de uma obra de alta sensibilidade, que aborda a adolescência vivenciada pelo protagonista frente à cegueira e sua descoberta do amor e da sexualidade” e “uma produção de linguagem universa aberta à compreensão de diferentes públicos”, disse a ministra. A última vez em que um filme brasileiro concorreu na categoria foi em 1999, com “Central do Brasil”, de Walter Salles.

Na Visão do Repórter Que Tudo Vê...

Por Pedro Rafael

Originalidade e perspicácia definem o filme “HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO” de Daniel Ribeiro. O filme que conta a história de Leonardo, adolescente cego em plena fase da descoberta de sua sexualidade foi inspirado no premiado curta do mesmo diretor, denominado “EU NÃO QUERO VOLTAR SOZINHO”. Inúmeros elementos são explorados ao longo de toda a película. A busca por autonomia de um rapaz cego, Suas relações afetivas, sua compreensão do mundo através dos outros sentidos. Tais artifícios compõem a história da personagem principal. Leonardo, vivido por Guilherme Lobo, se sente saturado com o modo pelo qual é tratado por todos e a maneira como sua vida é levada. Nem mesmo a relação com sua melhor amiga, Giovana (Tess Amorim), consegue suprir o vazio existente. É quando Gabriel, interpretado por Fabio Audi, é transferido de escola e se insere na vida do jovem cego e de sua inseparável amiga. O filme conta ainda com importantes diálogos, carregados de humor e sarcasmo, caracterizando a vida cotidiana de todo grupo de jovens. Há presente em toda a narrativa a situação do bullying sofrido pela personagem principal. Além da questão da cegueira, em um primeiro momento, quando a relação entre os meninos se solidifica, a implicância se transforma para a questão do gênero. Elementos como alguns objetos e conceitos tais quais o protetor solar, Pudim – o cão e o eclipse lunar são recorrentes em todo o contexto da narrativa, compondo uma história que segura o expectador do início ao fim. Enquanto pessoa cega, não posso deixar de relatar aqui os elementos visuais do filme dos quais o expectador não-vidente não conseguirá assimilar sem a audiodescrição. Afinal, estamos falando da indústria do audiovisual, na qual os artifícios imagéticos tem de ter expressividade. Caso contrário, estaríamos falando de música nesta postagem. Três cenas, em especial necessitariam de tal artifício para não comprometerem a compreensão plena da narrativa. O momento em que Leonardo cheira o Casaco esquecido em sua casa por Gabriel (e o que se segue), a cena do banho no acampamento e a cena final (e que final!). Por fim, gostaria de parabenizar o diretor e toda sua equipe por trabalharem com afinco neste projeto. Com absoluta certeza de seu sucesso, o filme traz uma análise compatível com a realidade da pessoa cega além de ser apresentado de uma forma leve e inocente.