Por Fabricio Duque
Há uma máxima no meio
cinematográfico de que até o mais fraco longa-metragem do diretor americano
Woody Allen (de “Tudo O Que Você Sempre Soube Saber Sobre Sexo”, “Manhattan”, “TudoPode Dar Certo”, “Você Vai Conhecer O Homem Dos Seus Sonhos”, “Meia-Noite EmParis”, “Para Roma Com Amor”, “Blue Jasmine”) é ótimo sem ressalvas. A visão
passional deve-se a sua narrativa verborrágica, intensa, psiquiátrica e
analítica do cineasta prolixo, com periodicidade anual. O “gênio” experimenta
possibilidades diversas de se contar uma história, sendo um dos melhores que
sabem traduzir palavras em imagens. Seu gênero é definido como comédias
românticas, dotadas de idiossincrasias, manias aceitáveis e tempestade de
ideias “jorradas”, quase de forma esquizofrênica. A trama mostra-se por
detalhes, que são juntadas em seu espaço efetivo e contextual. Em seu mais
recente filme, “Magia Ao Luar”, crítica e público dividem-se com adjetivos de “artificial,
bobinho e açucarado” de um lado; e “exercício proposital de interpretação
teatral” (parecido com a estrutura do seu anterior “Blue Jasmine”). Aqui, Woody
mescla estilos e temas, envolvendo ocultismo e sua pseudofraude. Inicia-se com
um teatro mágico chinês (inferindo muito ao longe “Poderosa Afrodite”) e já nos
primeiros diálogos “escancara” o humor ranzinza de seu personagem principal.
Desta vez, o “alter-ego” é interpretado pelo ator inglês Colin Firth (de “O
Direito de Amar”, “O Discurso do Rei”), que imprime maestria pela competência,
entrega e mitigação da exposição. “Autógrafos são para idiotas”, diz. Uma
característica marcante, que torna ímpar a cinematografia de Woody, é a não
inclusão de trilha sonora entre os diálogos, apenas nos cenários ambientadas
(como casas de jazz) e ou transições das reviravoltas do roteiro. O “mágico”
cético, “chato e pessimista” “obriga-se” ao estado de um “esnobe gênio”, que
usa a racionalidade como defesa a fim de impedir a emoção de um futuro “imprevisível”
de uma “vida bruta”, que é “perfeito sem ser enfadonho”, extremamente
sarcástico, de “arrogância” ingênua e cáustica, de zombaria ácida e rabugice
cínica, praticamente um ser “desagradável”. Ele é “contratado” para desmascarar
a possível farsante (a atriz Emma Stone, de “Zumbilândia”, “Histórias Cruzadas”)
que consegue conversar com espíritos e que possui “telepatia por vibrações
mentais”. Aos poucos, devido às circunstâncias, permite-se o “descanso”
defensivo, e se “entrega” (em doses homeopáticas) a “hot music”, a alegria, à “humildade”,
ao sentimento “orgulhoso” e ao “outro mundo da loucura”, tendo a fotografia “mágica”,
de luz nostálgica, captada pelos raios de sol que desenham a tela, retratando
variações de interferências da cor, por exemplo, a de um filme caseira durante
as férias de uma família, corroborada pela magnífica e crível direção de arte,
sem esquecer seus figurinos. Se alguém diz que uma paisagem é “bonita”, o nosso
protagonista rebate com “passageira”. Diz-se que sarcasmo é sinal de
inteligência, e aqui, entende-se o embate gerado por “jogadores” de xadrez em
uma batalha vocabular. A lógica do personagem não aceita a vulnerabilidade,
acreditando que o “otimismo era uma ilusão” e que a melhor forma de “achar”
charlatões é por insultos (e resmungos), talvez pelo “bullying” e picardia do final, ou pelo “otimismo” assumido
que Woody Allen quis conduzir o espectador. Será que o cineasta está buscando a
felicidade “imprevisível” e que se deu conta que não possui todas as respostas
lógicas e racionais? Não sabemos, mas podemos nos deliciar com “Magia ao Luar”,
que reitera a máxima do preâmbulo desta análise. Concluindo, o filme continua
ótimo mesmo parecendo mais "fraco".