Por Fabricio Duque
Direto do Festival de Toronto
“O Segredo das Águas” representa
o novo filme da diretora japonesa Naomi Kawase. O Vertentes do Cinema é
completamente apaixonado pela forma sensorial, inocente, pura, familiar,
natural, emotiva, de extremado "Close Up", de visceral literalidade, de
sutileza (ao retratar estados físicos) espirituosa que sua câmera conduz a
história. Aqui, a técnica mudou um pouco, assemelhando-se a Kim Ki-Duk e Hong
Sang-soo. É poesia visual, "talhada" quadro-a-quadro, com cenas
subaquáticas, encontrando Terrence Malick e Apichatpong Weerasethakul. Mas sua
essência é a mesma, trabalhando o limite tênue entre a morte e a vida. Tenta-se
"traduzir" sofrimentos e aceitar as consequências da vida. A natureza
integra, liberta, acalma e se mostra personificada. Um grande filme, que apela,
às vezes, a um excesso de inocência. Mas nada que atrapalhe o contexto não
linear e por detalhes que precisam ser montados. O espectador sente o vento, a
água do mar, a lágrima nostálgica e chora junto, Impossível não se emocionar. Naomi
foi a mais jovem cineasta a ganhar a Câmera de Ouro do Festival de Cannes, aos
28 anos, por “Suzako”, de 1997. “Não sou religiosa, mas acredito que haja um
mundo depois da morte, sim. Caso contrário, não saberia explicar as forças que
nos protegem. O vento, que é invisível, é uma pista da existência dessas
forças. Os habitantes da ilha de Amani Yoshima, lugar que filmamos, dizem que
as borboletas são criaturas enviadas pelos deuses e representam nossos
ancestrais. Tivemos muitas borboletas durante as filmagens, acho que os deuses
estavam presentes lá. A morte não é algo necessariamente triste ou ruim”, disse
a diretora. “O machismo está na cultura
do Japão. Não quero viver em um mundo contra homens, mas onde esses dois oitos
de vista possam se misturar de uma forma mais produtiva”, finaliza.