Por Fabricio Duque
O documentário “O Espírito de Charlie
Hebdo”, de Fabrice Gèrardi, tem o intuito de realizar uma homenagem aos
cartunistas “dizimados” no atentado por terroristas islâmicos. Assim, com
trinta e cinco minutos de duração, tenta-se traduzir com despretensão a
essência do jornal francês, um espaço à arte e à subversão. Com imagens de
arquivo de três anos antes, dos “sobreviventes” e das famílias, o
curta-metragem fornece um perfil conciso por adjetivos com um “conservado”
valor “politicamente incorreto” e pela “energia”-rotina (escolher a melhor
capa) do dia-a-dia (“risos, muitos lápis e muitas brigas ideológicas”) dessas
“crianças grandes”. O humor irônico, provocador, ousado, duro, impertinente,
insolente, engraçado, revoltado, debochado, incisivo, satírico, anarquista,
“feroz”, “tinhoso”, insubordinado, “sem escrúpulo”, “anormal”, perspicaz, de
editoriais ácidos, de “rir de tudo”, que “tomava partido”, que “permitia” a
picardia com os outros (“zombar da cara dos grandes cretinos e dos agressivos
religiosos”) e sobre cada um deles (o autobullyng), o que gerou “ameaças”. Um
dos questionamentos que o trágico acontecimento em Paris trouxe foi sobre a
função do humor e se liberdade demais não é destrutiva. É fato que o mundo
mudou. Ficou mais politicamente correto, mais sensível, mais frágil e mais
impositivo às crenças subjetivas (talvez únicas) que o indivíduo social (“a
sociedade que não admite mais uma abordagem livre e alegre da vida”) resolveu
“acordar” e o que era “apenas um processo” virou sentença de morte. Vivemos a
era do julgamento “radical”, de uma “falsa” liberdade de expressão pelo próprio
“povo”, que hipocritamente busca a “liberdade”. Será que os cartunistas podem
dizer tudo? Os comediantes “stands up comedy” podem “sacanear” a existência,
particularidades e idiossincrasias de todos? Quem não se lembra dos programas
passados de Viva O Gordo e de Os Trapalhões? Naquela época podia? Charlie Hebdo
“vai até o fim”, “amplia os limites da liberdade de expressão”, “garante a
possibilidade de se blasfemar na França sem parar na prisão ou ter que pagar” e
também “permitir que fossem mais livres”.
“Charlie Hebdo não morreu”, finaliza-se.