Preâmbulo
Uma Ambiência Introdutória
Por Fabricio Duque
Há quem diga que a saga “Jurassic
Park”, adaptada ao cinema pelo diretor Steven Spielberg do livro homônimo (em
1990) de Michael Crichton (que se baseou inicialmente na ideia de George Poinar
e sua esposa), sobre a recriação geneticamente (por um DNA encontrado de
insetos fossilizados em escavações antropológicas) de dinossauros, nunca deveria
ter sido sequer imaginada. A história questiona a ética de um cientista
“excêntrico”, talvez “lunático”, que deseja “brincar de ser Deus”, trazendo à
vida animais que foram extintos para poder “aumentar” sua fortuna, habilidades
profissionais e fama. O primeiro filme, “Parque dos Dinossauros”, que conjuga
um roteiro embasado de suspense com medo iminente, sempre no limite,
característica típica de Spielberg (visto “Tubarão”), apresenta o universo
abordado, traz o embate moral (de picardias não “piadistas” – sem apelação
clichê) sobre o tema (principalmente na hora da refeição) e ainda insere a
maestria da computação gráfica, fornecendo uma natural realidade de
personificação humanizada (expressões, texturas, sentimentos, humores,
necessidades, instintos) destes “predadores”, que “fazem o precisam fazer”, e a
música de “esperança limite” de John Williams. Os mesmos que disseram que esta
história nunca deveria ter sido contada são surpreendidos com a continuação “O
Mundo Perdido” (em 1997), também adaptada do livro de Michael Crichton (que foi
pressionado a escrever devido ao sucesso do anterior) e também dirigida por
Steven Spielberg, que perpetuam a máxima popular de que “errar é humano, mas
persistir no erro é burrice”. De novo, o cientista, menos “lunático”, precisa
“resolver” pendências (e se redimir de seus erros) quatro anos depois (de forma
radical a fim de “preservar” a própria “criação” sem interferência – como uma
comunidade indígena sem antropólogos – quando perdeu o controle de sua empresa
InGen para seu sobrinho) do filme anterior e assim é apresentado ao espectador
um “Mundo Perdido” (mais humanizado, mais “entendido” – de como se “relacionar”
com estes “monstros”, mais “aventureiro”), lugar “in loco” da “gestação” destes
“extintos por Deus”, porém “recuperados pelo Homem”. Em 2001, a trilogia é
concluída com “Jurassic Park III”, dirigida por Joe Johnston, não mais por
Steven Spielberg (que apenas assinou a produção executiva), pode ser traduzida
como um produto de “fechamento linguiça” da saga. O que percebemos é o foco
unicamente aventureiro (com raras exceções à descoberta de novos elementos da
personalidade dos dinossauros), quase preguiçoso (tanto que até mesmo os
efeitos especiais não são tão “críveis” assim) e de se utilizar uma história
comercial (de resgate sentimental familiar) dentro de um tema “memória
afetiva”.
O Parque Está Aberto
Por Fabricio Duque
O ser humano não aprende mesmo e
busca sempre a “auto” sabotagem de “tentativas e erros”. Mesmo sabendo das
tragédias confirmadas do passado, a mesma empresa, não satisfeita, “resolve”,
finalmente, inaugurar, quatorze anos depois (em 2015), o tão almejado Parque dos
Dinossauros em “Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros”, o quarto filme da
saga “Jurassic Park”, inferindo à estrutura de um Parque da Disney (porém com
“bichanos” totalmente geneticamente modificados) e tendência “arrogante” da
ciência, esta que não encontra limites para desferir “habilidades futuristas”.
Assim como o longa-metragem anterior, este não é dirigido por Steven Spielberg,
que só assina a produção, mas convida Colin Trevorrow (de “Sem Segurança
Nenhuma”) para a aventura. O “novato” não decepciona e prova que fez direitinho
o trabalho de casa ao conseguir resgatar a atmosfera tensa e de suspense
iminente do primeiro filme, com detalhes em forma de “homenagem nostálgica” a
fim de “conduzir” o espectador à “viagem” de própria sua memória afetiva
(aqueles que vivenciaram a experiência anterior) e sendo independente a nova
geração (que apenas ouviu falar). É inevitável a sinestesia, principalmente
quando os primeiros acordes da música de John Williams reverberam, gerando o
arrepio na coluna de todo e qualquer ser humano (vertebrado e ou invertebrado).
Outra característica é a de conservar a ambiência “Indiana Jones” de ser, e que
quem não sabe, pode jurar que “Jurassic World” é sim mais uma obra da
filmografia do cineasta “criador”. Aqui, o roteiro apresenta, em 3D, “logo de
cara” a história (recheada de espécies dinossauros), optando por não demorar o
desenvolvimento e critica o “despreparo” dos parques de diversões (e também dos
próprios cientistas - fazendo experiências genéticas para criar hibridismos),
que estão muito mais interessados em gerar receita que proteções. O
protagonista da vez é o carismático (e escolhido sobmedida ao papel – tanto que
será a nova versão de “Indiana Jones”) Chris Pratt (de “Guardiões da Galáxia”),
que “perdeu” peso e “ganhou” notoriedade, imprimindo uma personalidade “ogra”
(com suas picardias e explicações perspicazes), de uma sensível humanização
sentimental (ao entender a essência dos “predadores”) e de uma “inadequação”
romântica às regras do relacionamento intersocial. Os detalhes narrativos (o
chão tremendo) são incluídos sem pressa na história, quando “solicitados”.
Logicamente, que quem assiste precisa dar um “desconto” e aceitar, de forma
cúmplice, a liberdade poética das reviravoltas, como o salto alto (que não
quebra nunca) da cientista “mulher maravilha” (a doutora Claire – Bryce Dallas
Howard), do jipe que funciona anos depois, dos salvamentos espetaculares dos
irmãos (que correm mais rápido que os “milenares”), enfim, tudo é
hiperdimensionado à fantasia visual. E definitivamente, não incomoda em nada. Concluindo,
“Jurassic World – O Mundo dos Dinossauros” é um presente de ficção científica
de uma “viagem no tempo” à nostalgia da pureza cinematográfica, e que cria a
analogia com a própria sinopse de que “um dinossauro adquire um nível máximo inteligência
– bem mais de um macaco – e se torna uma grande ameaça”. Aqui, percebemos e nos
“deliciamos”, vorazmente, com esta inteligência e ameaças perfeitamente
manipuladas. Recomendado.