Por Fabricio Duque
“Samba”, dos diretores Eric
Toledano e Olivier Nakache (que também participam como atores coadjuvantes),
comporta-se como uma novela sobre imigrantes ilegais na França e suas anulações
de identidades originais. Cada um tenta “sobreviver” e “ganhar” a tão sonhada
carteira social definitiva. O título deseja “confundir” os estrangeirismos,
misturando características de uma cultura em outra e assim tentando “dançar”.
Mas a estrutura de repetir os passos de sucesso do filme “Intocáveis” (o filme
anterior dirigido pela dupla) encontra mais a forma americana de Hollywood que
a francesa. A narrativa romanceada permanece sem aprofundar dramas e ou emoções,
optando pela superfície. É como se um “gringo” estivesse dançando o “samba”. Soa
visualmente desengonçado, sem ritmo, sem cadência e desequilibrado. Ao criar o
paralelo com a existência de seus personagens, a trama apresenta-se perdida,
clichê (principalmente pelos detalhes incessantemente explicados) e pululada de
gatilhos comuns óbvios (incluindo a parte musical que conta com Bob Marley,
Gilberto Gil e Jorge Ben Jor) e palatáveis, buscando a cumplicidade ingênua do
espectador (a música romântica, mulher apaixonada “babando” à primeira vista, a
insônia, um ajudando outro, o perfume, a camisa “amuleto”, a “traição” com a
noiva do “amigo” de cela, os olhares julgadores no transporte público), tudo
para “impedir a deportação”. O tema é reduzido a uma história de amor “mamão
com açúcar”, em que os conflitos são resolvidos instantaneamente (com uma condescendência
irritante) e sem grandes dificuldades. Digamos que o longa-metragem seja uma
experiência de tentativas e erros, visto logo na abertura “espalhafatosa” de
acompanhar o preâmbulo quase como uma sequência sem cortes de câmera – com toques
de bastidores, que mais parece uma homenagem ao cineasta Baz Luhrmann. Um
acerto. A própria história fornece “dicas” adjetivadas, como o limite entre
sensibilidade e distanciamento. Aqui, Charlotte Gainsbourg vivencia uma
funcionária “surtada em licença” que trabalha em uma Organização Não
Governamental que “ajuda” os imigrantes. Se não fosse pelo ator Omar Sy, que
imprime uma interpretação sutil e afiada, brilhando com naturalidade crível, também
pela cena que o ator Tahar Rahim dança como um brasileiro imitando um comercial
da Coca-Cola, e pela “altura” dos telhados de Paris, talvez “Samba” tampouco
passasse da primeira aula de dança. A temática do estrangeirismo na França está
em alta, visto que “Deepan”, de Jacques Audiard, venceu a Palma de Ouro no último
Festival de Cannes 2015, porém “Samba” está longe de “politizar” a história, já
que não cria identidades ao utilizar uma “Torre de Babel” americanizada que se
perde no próprio caminho e na “viagem” anunciada. Os altos e baixos são
nivelados em equilíbrio, gerando o resultado final mediano. O filme foi exibido
no Festival de Toronto 2014 e não gerou interesse. E será exibido no Festival
Varilux de Cinema Francês 2015.